Unicamp 2019: cursinhos valorizam foco em direitos humanos e ‘diálogos’ na 2ª fase

Unicamp 2019: cursinhos valorizam foco em direitos humanos e ‘diálogos’ na 2ª fase

A pedido do G1, coordenadores de três instituições avaliam nível de dificuldade das provas, os temas da redação e a relação entre conteúdos do ensino médio com pautas da atualidade.

 

Por G1 Campinas e Região

 

O foco nos direitos humanos e os diálogos entre conteúdos do ensino médio e temas em destaque na sociedade brasileira estão entre os pontos valorizados nas provas da segunda fase do vestibular 2019 da Unicamp, por representantes de cursinhos preparatórios ouvidos pelo G1.

 

Os exames foram aplicados entre domingo e esta terça-feira (15). A universidade registrou abstenção de 14,3%, o maior índice em três anos, mas valorizou recorde de participantes na etapa e destacou que isso permite elevar a qualidade da seleção feita em São Paulo e mais cinco estados.

 

A redação teve como temas a “doutrinação ideológica na sala de aula” e a relação entre Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB). Veja análises:

 

Tempo e enunciados

Daniel Perry, coordenador do Anglo

“Os enunciados estavam claros, sofisticados, exigiram bastante capacidade analítica dos candidatos. As questões de praticamente todas as provas, com exceção de matemática, exigiram diversas habilidades. Atenção à leitura dos textos, análise de imagens e gráficos, e isso transformava elas em relativamente difíceis. O tempo foi suficiente para quem estava bem preparado. A prova é de alto nível, foi exigente como nos anos anteriores.”

 

Edmilson Motta, coordenador do Etapa

“O tempo de prova era um problema sério até a mudança para o formato atual. Era reclamação constante dos participantes e não vemos ocorrer mais. Algumas mudanças que a gente viu: geografia, que era uma prova onde eram questões mais contextuais, foram mais diretas em alguns itens; em história é usual ter análises de imagens e na Unicamp não teve, mas com riqueza de textos; e a prova de biologia teve uma pergunta com bastante criatividade sobre DNA. Questões bem colocadas, dentro do esperado, e matemática com enunciados mais clássicos.”

 

Marcelo Pavani, coordenador da Oficina do Estudante

“Tipicamente o tempo nunca é um problema nas provas de segunda fase e isso não me pareceu um problema. Na redação, embora fossem temas importantes e instigantes, as propostas foram simples e os alunos identificaram rapidamente o que deveria ser feito […] Enunciados claros, dentro de um contexto de realidade, com exceção de matemática que foram mais clássicos.”

Praça em frente ao prédio da reitoria da Unicamp, em Campinas — Foto: Fernando Pacífico / G1 Campinas Praça em frente ao prédio da reitoria da Unicamp, em Campinas — Foto: Fernando Pacífico / G1 Campinas

Praça em frente ao prédio da reitoria da Unicamp, em Campinas — Foto: Fernando Pacífico / G1 Campinas

 

Dificuldade das provas

Daniel Perry, coordenador do Anglo

“O nível de dificuldade estava adequado para selecionar os mais bem preparados. Não estava mais difícil que o ano anterior, seguiu os mesmos padrões de 2018 e 2017. Uma prova considerada mais fácil, embora isso seja relativo, foi matemática porque foram questões tradicionais, diretas, dessa forma não demandava tanto tempo dos candidatos. Não teve uma que se destacou como a mais difícil, mas o terceiro dia foi o mais trabalhoso.”

 

Edmilson Motta, coordenador do Etapa

“O nível de dificuldade da prova raramente é homogêneo. Física, como destaque pela dificuldade, caiu física moderna, uma questão com fórmula de capacitância […] e matemática um pouco mais fácil, citando as matérias que chamam sempre a atenção pela complexidade.”

 

Marcelo Pavani, coordenador da Oficina do Estudante

“A gente tem que pensar que é uma segunda fase. A gente não espera questões dadas, como ocorre na primeira. O nível tem que ser maior, porque estamos selecionando candidatos que passaram por uma peneira. Foram de muito bom nível, não havia questões fáceis, mas eram facilmente compreensíveis […] Muito difícil olhar para as provas e identificar uma mais fácil ou difícil, a Unicamp está muito calibrada. Nível muito homogêneo, nada que destoe para mais ou menos.”

 

Temas da redação

Daniel Perry, coordenador do Anglo

“A redação no vestibular tem um viés sócio-filosófico. A Unicamp traz consigo, ao longo dos últimos anos, e ficou nítida a preocupação com a diversidade e os direitos humanos. Ela [prova] foi bastante marcante neste sentido. Se o mesmo tema caísse há cinco anos não ia causar tanta polêmica, mas gera essa atenção por conta do contexto em que se debate mais a questão dos direitos humanos. De toda maneira, as propostas foram excelentes, um vestibular maravilhoso.”

 

Edmilson Motta, coordenador do Etapa

“A Unicamp sempre se destaca por gêneros textuais diferentes, e desta vez foram duas propostas argumentativas, um pouco diferente. Algo que chamou atenção foram as qualidades dos textos de apoio, muito bons, dando vários elementos aos candidatos. Já que se requer reflexão de direitos humanos, é importante fornecer dados e bases sólidas […] Unicamp sempre tem viés mais social.”

 

Marcelo Pavani, coordenador da Oficina do Estudante

“As duas propostas trouxeram temas da atualidade e pediram para o aluno se posicionar e ter uma linha de argumentação condizente com uma ou outra perspectiva. Não só na redação, mas história e geografia também tiveram questões que provocam diálogos com questões da atualidade. Em geografia sobre precarização e terceirização do trabalho, e na de história sobre o papel da mulher na construção do conhecimento […] a prova traz o tempo todo para reflexão. Muito adequada.”

 

Universidade ‘antenada’

Daniel Perry, coordenador do Anglo

“Nesse sentido, a prova é a mais antenada com a realidade brasileira, a que mais contextualiza, trazendo conteúdos do cotidiano, exigindo não só conteúdo tradicional, mas entendimento do mundo ao redor para que o aluno tenha uma bom conhecimento da realidade, uma capacidade crítica bastante pronunciada. Ela busca selecionar, isso é claro, e as provas de todas as matéria demonstram esse viés. Uma universidade moderna que tem avançado em vários aspectos.”

 

Edmilson Motta, coordenador do Etapa

“Isso foi mais marcante em português e história, a gente percebe o cuidado com as abordagens. Em geografia, que teria um campo para isso, não foi feito com a intensidade usual e nas outras provas não teve essa preocupação […] Uma dica para os futuros candidatos é atenção com a lista de obras obrigatórias, porque três das seis questões dissertativas exigiram leitura dos livros.”

 

Marcelo Pavani, coordenador da Oficina do Estudante

“As universidades, cada vez mais através dos vestibulares, estão se posicionado sobre o perfil do aluno que elas querem ver dentro. Tecnicista ou que consegue articular conhecimento escolar com a realidade de mundo, de modo a contribuir no contexto inserido. Me parece que essa aposição da Unicamp é muito clara. Aluno crítico, que tenha um domínio técnico, mas consiga colocar esse conhecimento nas discussões do cotidiano, que não seja alienado.”

 

As respostas esperadas pela Unicamp serão divulgadas a partir de quarta. Neste dia, a Comvest irá disponibilizar o gabarito das avaliações de língua portuguesa e literaturas de língua portuguesa; enquanto que nos dois dias posteriores serão publicadas respectivamente as explicações para questões de matemática, geografia e história; e na sequência as de química, biologia e física.

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