Diretor de cursinho dá aula pra vida

Diretor de cursinho dá aula pra vida

No primeiro dia de aula dos cursos pré-vestibulares da Oficina do Estudante, de Campinas, nesta quinta-feira, 7 de março, houve muito mais do que boas-vindas e informativos sobre questões pragmáticas – como avisos gerais, entrega de material didático e informe de calendário.

O professor Marcelo Pavani, diretor do Curso, palestrou sobre sonhos e como alcançá-los. Abarcou de questões existenciais e filosóficas às disciplinares e empíricas, perpassando pela poesia Mãos Dadas*, da obra Sentimento do Mundo, de Drummond (1902-1987).

Confira algumas das considerações do especialista aos vestibulandos – que, inclusive, podem ser utilizadas ao longo de toda uma vida:

Prioridade

“Você vai começar a estudar e vai ter uma pilha de coisa pra fazer: um monte de lista, de matéria atrasada. E o que muitas pessoas fazem? Pensam: ‘eu não vou conseguir resolver essas coisas todas’. E é óbvio que não. Mas, o que é que você vai resolver? Uma dessas coisas, e se você resolvê-la já é uma a menos. E a medida que você for resolvendo, aquela pilha vai diminuindo de tamanho. O próximo exercício, o próximo simulado, a próxima hora de estudos… cada uma dessas coisas tem que ser feita com qualidade, porque o tempo e espaço que te separa dos vestibulares é uma sucessão de instantes. E se cada instante desses for vivido de forma adequada, você vai chegar bem na hora da prova”.

O aqui e agora

“Não tem nada mais importante do que o agora. E ao longo deste ano você vai ser absolutamente testado em relação a isso. Você tem que brigar por cada instante porque é preciso vivê-lo com qualidade.

Qual é a única coisa que importa pra que você consiga chegar lá? O próximo degrau, porque se você não subir esse degrau, você vai ficar olhando pro topo o resto da vida… E é por isso que se você, hoje, no primeiro dia do cursinho, fica olhando lá pra novembro, pensando, ‘o Enem vai chegar, a Fuvest vai chegar’, isso vai ser absolutamente inútil.

Enquanto você olha pra lá, o que você não vê? O hoje, o próximo degrau. E o que é o próximo degrau? Cada aula. Cada aula é importante. Não a aula daqui a 50 minutos. A aula em que eu tô agora. Cada exercício é importante.

Você tá naquela aula, de propriedades da matéria, mas tá se preocupando com Mol, que você não sabe. E quando chegar a aula de Mol? Aí você vai estar está lascado ao quadrado, porque não aprendeu as propriedades da matéria e continua não sabendo Mol”.

Diálogo com a realidade

“A gente vai preparar vocês a cada minuto deste ano, sem cessar, não pra um conhecimento enciclopédico, mas para um diálogo com a realidade: pra hora que você estiver no ônibus e levar uma freada, pra você pensar: isso é inércia, que eu aprendi em sala de aula”.

Ansiedade e depressão

“O que é ansiedade? É estar aqui com a cabeça no futuro, o que é absolutamente inútil pelo simples fato do futuro não chegou, e você não está resolvendo os problemas que estão aqui, agora.

Porque a vida acontece aqui e agora. Não acontece semana que vem, nem em novembro. E se você entendeu isso, já percebeu também o que é depressão: estou aqui, mas com a cabeça em uma situação que vivi no passado, que não consigo me desvencilhar dela.

Ansiedade e depressão são duas vias de uma mesma disfunção espaço-temporal: você está aqui, mas com a sua cabeça lá, lá no futuro, ou lá no passado. Nada importa mais do que o agora. O grande problema do vestibulando é que ele quer resolver todos os problemas do universo hoje”.

Sonho e renúncias

“Por que você tá fazendo cursinho? Qual é o tamanho do seu sonho? Por que você está fazendo isso? Eu fico imaginando aquela pessoa que é a primeira bailarina, o primeiro bailarino do Bolshoi.

A gente olha pra isso e pensa ‘fenomenal’, e paga caro pra ver. Por quê? Porque são performances fantásticas. Mas, o que a gente não vê? O preço pra realização desse sonho. As marcas da realização desse sonho. A vida é assim: deixa marcas. E elas são importantes porque fazem parte do processo.

E se isso acontece com a menina que faz balé, com o cara que joga basquete, por que com a sua aprovação vai ser diferente? Não vai. Estranho seria se não fosse assim.

E a gente tem que se preparar pra isso. Eu gosto de ficar pensando: quantos nãos há nessa imagem (do pé de bailarina)? Hoje eu não vou pra balada, hoje eu não vou pro churrasco, hoje eu não vou pra festa. Hoje eu vou ensaiar, vou treinar, vou praticar. Quantas renúncias estão contidas nesta foto? E é sobre isso que o cursinho é também” 😉

Mãos dadas*
“Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.

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